terça-feira, 7 de outubro de 2008

Da guerra e da virtude

"Conheço o ódio e a inveja do vosso coração. Não sois bastante grandes para não conhecer o ódio e a inveja. Sede, pois, grandes o suficiente para não vos envergonhardes disso!"

Não almejo paz de espírito. Minha alma é inquieta e tempestuosa. Tremula ansiosa na calmaria, espreitando o mundo através de olhos ardentes.

Por anos vivi sem saber o que fazer de mim. Deixei meus demônios e anjos trancafiados no porão do ser, alimentando-se de fugazes experiências e adormecidas impressões do corpo de uma criança a quem só a tranquilidade foi apresentada. Evidentemente não foram complacentes. Atiraram-me contra a solidez dessa paz, e eu era ainda muito frágil para quebrá-la. Se meu corpo conheceria apenas o conforto, à minha mente estava reservado o tormento. Assim passei minha infância e adolescência. Papai e mamãe zelavam para que eu não conhecesse a dor e a dificuldade enquanto minha impaciente essência chocava-me contra o muro que me protegia, e assim me estilhaçava os ossos e a vontade. Mas a cada vez, regeneravam-se mais rígidos.

"Dizeis que a boa causa é a que santifica também a guerra? Eu vos digo: a boa guerra é a que santifica todas as causas."

Não almejo paz de espírito. Na verdade, a idéia me causa repulsa. Se queres saber, o mundo há de padecer de paz e não de guerra! O homem precisa ser um campo de batalha para estar vivo. E se é paz que almejas, ó homem, faz da tua paz uma conquista, ou ela definhará teu espírito até que dele não haja resquício além de uma mórbida quasi-existência. Somos nossos anjos e também nossos demônios. Para ser criador, é preciso também ser destruidor. Por isso a paz não pode advir senão da guerra. Por isso rogo-te: sejas um campo de batalha.

"Por que te assustas? O que sucede à arvore sucede ao homem.
Quanto mais se quer erguer para o alto e para a luz, mais vigorosamente enterra as suas raízes para baixo, para o tenebroso e profundo: para o mal.
(...)
Mas por meu amor e minha esperança te aconselho: não expulses para longe de ti o herói que há na tua alma! Santifica a tua mais elevada esperança!"
Friedrich Nietzsche
Assim Falou Zaratustra

3 comentários:

Anônimo disse...

Quer mais aventura em sua vida, Honey? Pois faça a aventura! Tô te sentindo tão pra baixo ultimamente... =/

Anônimo disse...

espero que possamos ser sempre companheiros de almas inquietas.

Anônimo disse...

Boa, zero-meia. Muito boa.
Viva a inquietude deste mar!