terça-feira, 30 de setembro de 2008

Dois piratas sobre o caixão hohohohoho e uma garrafa de rum...

Viver uma vida errante, leviana, descompromissada e irresponsável é muito mais que ser um vagabundo. É ser um pirata.
E o que define a sobrevivência de um pirata nesse mundo cada vez mais hostil? Ser um pirata de verdade é bem mais que gravar cds.
Não é o número de contratos que ele consegue fazer, é a quantidade de contratos dos quais ele consegue sair ileso.
Ser um pirata é viver de improviso, aproveitar as oportunidades e pegar tudo que puder pra si. É claro que a parte de pegar pra si vai fazer com que alguns homens queiram te matar e a parte de aproveitar oportunidades vai atrair instintos assassinos das mulheres, portanto seja cauteloso, a vida é um contrato do qual não se sai ileso.
No mais, trate de arrumar uma barca veloz.

O amor

"O amor mais uma vez fatiou minh'alma. Se fosse um corpo, seus pedaços estariam caindo ao chão nesse momento."
Por que ainda amo então? Por que, se as pessoas sempre se machucam no amor? E por que é quase inevitável que seja assim? Quer uma resposta bem lógica?
Amamos apenas a nós mesmos. Damos e dedicamos a medida que achamos valioso o investimento. O verdadeiro amor que se sente é pela sensação que obtemos através de nossos parceiros. Não faz diferença quem é a pessoa amada, você é capaz de amar da mesma forma outra pessoa ou uma batata, desde que ela seja capaz de saciar o que você deseja. Conheço homens que nunca traem a Coca-cola. Sacou? Homens que nunca traem.
Acontece que o ser humano pode mudar da água pro vinho e de repente não necessitar mais daquele parceiro ou necessitar de elementos que ele não possui. Então, meus amigos, adeus. É o que todo ser vivo procura. A melhoria das suas condições de vida. O amor não é um contrato, é mais um estado, esteja sempre pronto pra mudanças bruscas de situação, marujo(a).
Agora, falando em relação custo benefício, vou continuar dependente desse hábito universal que é amar. Não por masoquismo, mas porque é gostoso. Que nem cannabis, só que bem mais. Vou me apaixonar, se possível todos os dias. E, se morrer de paixão, melhor que bala perdida, câncer de pele e outras coisas.

segunda-feira, 29 de setembro de 2008

Aprender a morrer é aprender a viver

Estou desorientado. Sentimento de mundo refazendo-se em forma de segunda-feira. O fim de semana me lembrou de que, como diz Flaviola, as coisas nunca são tão reais quanto parecem ser. Mas parecem, até demais, e hoje acordei com o peso da realidade me esmagando. Quem são essas pessoas que vejo da minha janela, correndo atrás do tempo perdido? Que delírios preenchem sua imaginação enquanto vagam pela cidade? O que as motiva? A quem amam, e como amam?

Acima de tudo, me pergunto: O que lhes é real?

Somos poeira cósmica. Brilhamos como fagulhas de vida por nada mais que um breve instante, e logo apagamos. E esse instante é tudo o que temos. É a vida inteira. Somos o presente, e o futuro não nos reserva nada além da morte.

Morte é morte do ego; a existência continua. Não sei nada sobre reencarnação ou evolução espiritual. Vejo a morte como abandono de todas as ilusões de "eu" e retorno à eternidade. Mas não sabemos morrer. Esse é nosso maior erro, nosso grande fracasso. Confundimos o "eu" com existência e morte com vazio...

Agora, quanto ao meu padrão genético, vejam bem.

Não tenho pai nem mãe, explico. Sou filho adotivo. Tenho um pai biológico e outro pai de criação assim como duas mães, uma que me pariu e outra que exerceu o papel. Como posso ter dois de cada e não ter nenhum? Matémática. Pai é diferente de pai biológico e tb é diferente de pai de criação assim como Toddynho é diferente de Toddynho napolitano. O pai que me fez concebeu apenas minha carne, enquanto o que concebeu tudo mais que me importa não me fez.
Não estou me queixando da adoção (aliás, deus abençoe esta palavra), é uma questão muito bem resolvida em minha vida. Quero me ater a meus pais carnais, pra explicar a origem do que vocês conhecem/desconhecem.
Sou o resultado da transa de uma hippie com um caminhoneiro, duas categorias que viajam pelo mundo transando todo mundo. Sou fruto do woodstock e do hedonismo. Sou um herói pros meus amigos e levo uma vida cheia de reviravoltas, sempre buscando ser feliz.

Muito prazer,
Chico Buarque.

Essa é bem sacana...

Um dos maiores prazeres da minha vida é assistir o futebol com meu pai, e olhe que é uma vida de muitos prazeres desde a genética, mas tratarei disso no devaneio seguinte.
O fato é que quando meu pai não mais estiver entre os vivos, o futebol deixará de ter a mágica de seus comentários a respeito do jogo e tiradas de humor negro. Serão apenas 22 homens/mulheres de baixa escolaridade correndo atrás de uma bola Nike. Não assistirei.

sábado, 27 de setembro de 2008

A brisa

Amor de minha vida,
minha brisa querida
por minhas costas soprar

ser bom como ti queria
para a ti trazer alegria
toda vez que tu me encontrar

Ser eu um dia, amor
nas tardes ao sol se por
a brisa a te alegrar

Bateu um dia desses...

Petróleo, o ouro negro. Matéria peculiar. Vem do "underground" do mundo, sim, ele só é encontrado em locais onde não consigo imaginar que formas de vida poderiam estar, se é que alguma poderia. Ora, não é a toa que ele não verte de nossas veias, assim como não faria sentido algum o sangue correr abaixo do solo.
Imaginem como será quando o sentido desse petróleo estar abaixo do solo não fizer mais sentido algum, quando ele tiver sido completamente extraído. Ironicamente, quando vamos realmente entender esse sentido.
Entenda que isso não é como a importância da maioria das pessoas em nossas vidas, generalizando. É como milhoes de litros de uma substância condutora de energia formando uma camada no subsolo que, ao meu ver, muito provavelmente vai exercer uma verdadeira, grande e completamente perceptível diferença quando passar a não existir nesse mesmo subsolo. Como vão preencher a lacuna criada? O que vão colocar no lugar? Soja?
Ah, mas vá se fuder.

sexta-feira, 26 de setembro de 2008

Antes de falar, pergunte a si mesmo:

Afinal de contas, quem você está querendo enganar?

Entorpecidos de boas maneiras

"Fique à vontade
Tchau, goodbye
Ainda é cedo
Alô, como vai?

Com Marcelino vou estudar
boas maneiras para me comportar

Primeira lição: Deixar de ser pobre, que é muito feio
Andar alinhado e não frequentar assim qualquer meio
Vou falar baixinho, serenamente
sofisticadamente
Para poder, com gente decente, então conviver"

Tom Zé - Parque Industrial ou Satyricon (1968)

Nossa lógica egóica e individualista nos torna seres orgulhosos. Como nos sentimos muito importantes, ficamos ofendidos facilmente. Não satisfeitos com essa singela demonstração de burrice, fomos ainda mais longe. Inventamos, lapidamos e aperfeiçoamos, desde os primórdios da civilização até os dias de hoje, um mediador para assegurar que nossas relações sejam dóceis e sem complicações.

A educação (os bons modos, não a erudição) é mais uma bandeira dos bons e dos justos. Uma população educada não briga, fura fila ou joga lixo nas ruas. A educação é também uma excelente forma de controle e censura. Uma população educada não fala palavrão em público e respeita as instituições. Depende de regras de etiqueta até para comer.

Nada, eu lhes digo, nada que eu tenha observado entorpece tão morbidamente a nossa comunicação quanto uma boa e rígida educação. Deixamos de dizer as coisas que realmente queremos que sejam ditas, trocamos deliberadamente nosso bom senso por um caderninho de instruções de conduta. Isso mesmo, o bom senso foi descartado, não é mais necessário para a vida em sociedade, exige demais de um cidadão. A verdade tampouco importa, se proferi-la o fizer sair muito da linha. Esses traços arcaicos de nossa humanidade não são mais que uma saudosa lembrança de uma existência autêntica. Não, preferimos a educação. Ou seja, preferimos mentir aos outros, e esperar que eles nos mintam. Tudo em nome do bem estar. Em nome do Bem. Em nome da imbecilidade. Sim, pois qualquer imbecil pode ser educado. Já ser humano...

Fórmula Batida

mente
dormente
frequentemente
mente
e mente
ter mente
temente
demente
dormente
certamente, senhor

domingo, 21 de setembro de 2008

Falta Criatividade

A evolução científica trabalha com verdades a curto, médio e longo prazo. Cada teoria que se estabelece derruba um outrora irredutível e inderubável conceito. O ser humano supera sua ignorância com relativa facilidade desde o primórdio dos tempos, não por capacidade de superação, mas excesso de ignorância.
Sim, o conhecimento humano cresce cada dia mais ramificado, mas e a consciência? Ela evoluiu? Será o Homo Sapiens tão sapiens assim?
É isso mesmo, nós temos as corridas armamentistas, espaciais, genéticas, tecnológicas, dos trajes de natação e toda uma parafernalha sintética em nossas vidas, mas em que a civilização atual é superior as que lhe deram origem ou cujo próprio ciclo interrompeu-se pra dar lugar as que hoje existem?
Vivemos em meio ao caos, não importa que alguém não veja dessa forma, vai estar caótico do mesmo jeito. Somos prisioneiros de um jogo diabólico, estatísticas históricas, como os escravos do antigo egito, as legiões de Hitler ou os judeus assassinados. Não fazemos as leis sob as quais vivemos e nem sabemos a quem elas representam. O homem é a única espécie animal que precisou criar uma polícia pra policiar a si própria.
Sorte nossa sermos a raça suprema num momento de condições climáticas e fontes de recursos tão favoráveis. Os dinossauros não foram tão afortunados. Infelizmente isto não é suficiente pra livrar a nossa raça do risco de extinção. São tempos canibais onde irmãos se degladiam num modelo de produção predatório e toda forma de vida sai lesada.
Espero poder transcender o pouco que se compreende hoje em dia e que outros possam fazê-lo também pra que possamos resolver problemas como o da fome, dessa guerra idiota, da exploração de menores e toda essa degradação da cultura, da arte, do valor humano, do planeta, enfim, da vida.

quarta-feira, 17 de setembro de 2008

Quem és tu?

Essa é a charada proposta pela lagarta à Alice, que não consegue responder pois havia sido tanta coisa naquele mesmo dia que já não se sabia mais. Até tenta explicar isso à lagarta, mas ela não entende o que há de tão estranho em ter vários tamanhos no mesmo dia.

- Talvez não sinta as mesmas coisas que os outros - continuou Alice - O que eu sei é que eu, a mim, me sentiria muito esquisita.

- A ti... - bradou a lagarta, sem se conter - e quem és tu?

E com isso voltaram ao princípio da conversa.

Tente pensar em si mesmo e em tudo que o compõe. Seu corpo, seus pensamentos... agora tente tirar, peça por peça, tudo aquilo que pareça, um dia, ter vindo de fora. Os valores e as idéias são os primeiros a cair por terra. Tudo o que você aprendeu, é porque aprendeu um dia. Poderia ter aprendido outras coisas, mas ainda assim seria você.

Seu corpo mudou muito. Você cresceu, todas as suas células se renovaram e se renovam constantemente. O corpo, esse construto perfeitamente funcional, é físico e está sujeito às mesmas leis que governam a matéria e a energia. Mas também está sujeito à sua vontade. Não importa quantas sinapses sejam necessárias para andar até a padaria, é você quem está comandando esse processo. Assim, o corpo pode ser parte de você, pode ser um veículo, mas não é você.

E quanto às suas emoções? Sentimos coisas que não apenas guiam nossas ações como parecem inexplicáveis e vindas do âmago de nosso ser. Mas ao mesmo tempo conseguimos agir sem dar ouvidos à essas emoções, se tivermos auto-controle. Além disso, o que sentimos pode muito bem ser entendido como uma reação do organismo a certos estímulos, desde os mais primitivos até os mais elaborados. Sentimos um medo instintivo ao nos depararmos com algo ameaçador, ou sentimos raiva de alguém que fira nossos princípios. Esse segundo tipo de emoção se relaciona com valores adquiridos no decorrer de nossa vida e não poderia ser quem somos de fato. O primeiro é instinto, mas o que isso quer dizer? Pode não ser nada mais do que memória genética, uma reação adquirida pela espécie que foi selecionada por sua praticidade e que hoje existe em todos nós. Mas, se nossos instintos são uma característica de toda a espécie, não podemos ser instinto.

Parece-me, cada vez mais, que todas essas coisas que entendemos como "eu" não são mais que bagagem, instrumentos inatos ou adquiridos que nos auxiliam através dessa viagem que chamamos de vida. Eu tenho meu veículo sensorial e motor, tenho meus instintos mais primitivos, tenho tudo o que aprendi e todos os valores com os quais me identifiquei e adotei de alguma forma, e não sou nada disso. Mas que sou então?

Não quero propor respostas, caro marujo. Ao menos não ainda. Estou, ao contrário, propondo a você a mesma charada que a lagarta propôs à Alice. Quem és tu? Mas não responda à lagarta! Não responda a mim! Responda a si. Não se preocupe; antes de responder qualquer coisa a si mesmo, você vai precisar se encontrar. Quando o fizer, vai ter ao mesmo tempo a resposta e a quem responder.

Da série Sintomas

"O ESTADO DE EXCEÇÃO É
A REGRA?"

Pichado na parede do mercado ao lado de casa.

Bug

O tempo parece ter parado às 20:53 de ontem...

quinta-feira, 11 de setembro de 2008

Mas agora falando sério

Até nota de um real é melhor que colomy

Universidade para todos? ou Todavia leva à Roma

O começo do século XXI é um lugar no tempo muito engraçado de se estar. Época de caos, noções estranhas e idéias confusas. Os valores arcaicos de outrora já não fazem sentido para uma juventude que tem cada vez menos restrições e mais informação. Alguns estão até ousando pensar que talvez não exista certo e errado, bem e mau, bandido e mocinho.

Claro, essa é uma análise controversa. Para a maioria dos cidadãos de bem, do servente de pedreiro ao livre pensador, as coisas continuam cristalinas como água e o caminho para o Bem é evidente. E o que é esse Bem? O Bem é que todos tenham as mesmas oportunidades. O Bem é a igualdade, a fraternidade... ou, numa linguagem mais atual, o Bem é que todos possam um dia ter o mesmo poder de consumo. É possível levantar diversas bandeiras em nome desse Bem, mas quero falar especificamente de uma, que, dada a atual conjuntura do mercado de trabalho, seguramente será defendida por qualquer cidadão esclarecido: Universidade para todos!

O que isso significa? Significa que, em nome do Bem, é preciso que todos, de todas as cores, credos e classes sociais, tenham a oportunidade de cursar o ensino superior e disputar de igual para igual o seu lugar ao sol, quentinho e confortável como um útero. Ser empregado, feliz e Bom. Cada jovem que ingressar na faculdade será uma vitória para o Bem. Cada jovem nas ruas, na lavoura, na favela, um doloroso tapa na cara.

Uma idéia assim só podia mesmo ter nascido de um lugar: Da elite intelectual do país, estudantes, professores e políticos, todos com seu diploma universitário em mãos ou já encaminhado. "Que ABSURDO, que ULTRAJE essa juventude desfavorecida, sem as mesmas condições que nós, os Bons!", eles clamam com fervor, erguem suas bandeiras e vão à luta. Do outro lado, as camadas populares olham com admiração, dizem "Sim, SIM, pobres de nós desamparados! Ó Bons, salvem-nos!" e acreditam. Acreditam que, enquanto estiverem excluídos do ensino superior, não são nada.

Esse é o poder que a elite, por ser elite, tem. O de fazer os outros acreditarem que ou fazem parte dela, ou estão abaixo dela. Quanta audácia a de um ser para julgar-se, mesmo que na mais altruísta das intenções, acima de qualquer outro ser! E quanta irresponsabilidade ao reforçar essa impressão quando vinda de alguém que já se julga menor, inferior!

Todos os caminhos levam a Roma, e a universidade é sem dúvida um deles. Mas enquanto continuar a ser vista como o único ou o melhor, nunca chegaremos perto de equilibrar as oportunidades e direitos entre todos. De salários exorbitantemente maiores a celas especiais exclusivas, tudo isso mantém a elite universitária em seu pedestal imaculável de cidadão de classe superior. Mas nunca vi um Bom lutar contra nenhuma dessas coisas.

Uma breve introdução à Percepção

Ter consciência é perceber. Inventamos dúvidas e certezas, lemos o mundo, tomamos consciência de sua existência porque somos seres que percebem. Auxiliados por nossa razão e nossa linguagem criamos noções a respeito das pequenas e das grandes coisas, inclusive da própria razão e da linguagem. Todas essas noções, coerentes ou paradoxais, se juntam no que é nossa visão do mundo, a percepção que temos do que é e do que não é. De tudo.

Quando somos jovens, tudo é novo. Ainda não temos noções bem estruturadas e nossas opiniões ainda estão tomando forma. O mundo ainda parece um mistério. Envelhecemos e nossa visão se torna opaca. Trocamos o mistério pela certeza de uma realidade concreta, racional e quantificável. A existência parece fazer tanto sentido que dificilmente poderia se tornar algo diferente do que já é. Nossa visão de mundo está consolidada.

Possuímos visões semelhantes em muitos aspectos, educados por uma mesma cultura e, por que não, vivendo no mesmo mundo. Mas isso não evita divergencias. De fato, nem podemos conceber a idéia de duas pessoas compartilharem exatamente as mesmas impressões sobre "a vida, o universo e tudo mais". O consenso soa muito interessante para a sobrevivência de uma cultura, pois inibe a proliferação de idéias contrárias a ela. Lobotomia em massa. Porém, a nós, é o embate entre visões de mundo antagônicas que interessa. É aí que se pode examinar a fresta entre as visões e chegar-se à verdade.

E qual é a verdade? A verdade é que o mundo não é nada mais que a visão que se tem dele. Mil certezas serão afirmadas sobre a natureza das coisas e a única conclusão possível será a de que são mil visões de mundo, mil mundos possíveis. Apenas focando nossa atenção num objeto é que estaremos tornando aquele objeto o que acreditamos que ele seja. É assim, coisa por coisa, idéia por idéia, que tomamos conhecimento do caos que é o mundo e o organizamos numa estrutura coerente. Perceber isso abre as portas para uma infinidade de possibilidades. [leia Carlos Castaneda]

Ninguém precisa continuar a ser aquilo que acredita que é. Quando percebemos que somos livres e que o mundo não é mais do que percepção, todos nós temos o poder para tornar-mo-nos o que quisermos. Alterar a maneira como vemos o mundo e, portanto, como lidamos com ele não é uma tarefa simples. Ao contrário, talvez seja a mais desafiadora das empreitadas. Mas também a mais recompensadora. A verdadeira exploração de todo o infinito potencial humano.

Uma breve introdução à Liberdade

O que é liberdade? Como defini-la? Talvez seja mais fácil começar com outra questão: o que é ser livre? Ora, ser livre é poder fazer as suas próprias escolhas, não ter sua vontade subjulgada a outra coisa. Ser livre é ser o senhor de si mesmo. Sartre disse que estamos condenados à liberdade, mas somos mesmo livres?

Analizemos a seguinte conjuntura: Devemos seguir leis escritas, sejam elas de Deus ou do Estado. Temos milhares de espectativas, nossas e de outros, que buscamos cumprir para o bem de nossa vida social e profissional. A psicologia atribui boa parte de nosso comportamento a fatores além de nossa vontade, como o inconsciente ou o histórico de reforços e punições de um sujeito.

No meio disso tudo, não parece sobrar espaço para escolhas realmente livres. Mas então somos escravos? Nossa liberdade não passa de uma ilusão e na verdade estamos à mercê de milhões de outros fatores, tornando-nos meros espectadores de nossas próprias vidas? Sim. E não.

Acima de tudo, antes de tudo, somos seres que percebem. Somos capazes de tomar consciência de nós mesmos e de nossas relações numa profundidade tal que todas as questões acima podem nos ser apresentadas, questionadas e percebidas pelo que são: meros vícios de comportamento. Em última instância nada guia nossas ações além de nossa vontade, mas podemos nos deixar iludir por esses vícios e acreditar que eles agem sobre nós antes de nós mesmos.

A chave para compreender a liberdade é entender que ser livre é diferente de ser livre impunemente. A partir do momento em que se toma consciência da própria liberdade, não se pode atribuir seus atos a outra coisa que não você. Você é responsável por tudo o que faz, e não tem como se justificar. Não pode dizer "eu não tive escolha", porque teve. É muito fácil tornar-se complacente com seus próprios erros e negligências, bastando pra isso dizer que o mundo é assim mesmo e se entregar ao vício de sua preferência. Mas até mesmo essa entrega é escolha sua, e sua escravidão será de sua responsabilidade.

Ser livre, então, não é leveza, é peso. É peso pois tudo o que você faz no presente estará eternamente gravado na história, é irremediável, e trará consequências. Ser livre e ser responsável são uma e a mesma coisa, e ser responsável não é mais do que aceitar sobre si o peso das consequências de suas escolhas. [Leia "A Insustentável Leveza do Ser", Milan Kundera]

Volto então para a pergunta até agora não respondida: O que é liberdade?

Liberdade é a percepção de que sua existência é mesmo SUA para criar, e que cabe a você fazer algo dela. É a percepção de que esse algo pode ser qualquer coisa, o que quer que você ache que sua existência deva ser.

Ser livre é perceber-se livre.

A Barca do Sol

Navegando as águas turvas do Tietê ou a crista da onda em eterna expansão do oceano cibernético, os tripulantes da Barca do Sol avistam as infinitas potencialidades da realidade e regojizam-se. Por três dias e três noites festejam, cantando odes à sua humanidade, sua mortalidade e a tudo o que existe. Finalmente, numa grande cerimônia de encerramento, os mortos são lançados ao mar e os vivos sentem-se prontos. Piratas, filósofos, artistas, terroristas e vagabundos, todos pegam suas armas e aguardam o desembarque. A pilhagem vai começar.

A Barca do Sol foi uma banda setentista, com composições e arranjos bem elaborados e letras profundas, um som que pode ser classificado como folk rock muito brasileiro. Hoje, três décadas depois, a Barca do Sol desperta de seu sono para cantar o que já cantava outrora: os edifícios têm que cair.

Nenhum lugar é imundo ou limpinho o bastante para que não possa ser explorado. Nenhum assunto é impertinente. A Barca do Sol é um pretensioso projeto de jornalismo investigativo e debate filosófico, com seus canhões carregados e apontados para os pilares da cultura. Nada nem ninguém será poupado.

Dois temas irão inevitavelmente permear as reflexões da Barca: a Liberdade e a Percepção. Como a maioria não está familiarizada com esses conceitos, irei apresentá-los como ditam os bons costumes. Espero que com o tempo e a convivência vocês possam tornar-se íntimos.