quinta-feira, 11 de setembro de 2008

Universidade para todos? ou Todavia leva à Roma

O começo do século XXI é um lugar no tempo muito engraçado de se estar. Época de caos, noções estranhas e idéias confusas. Os valores arcaicos de outrora já não fazem sentido para uma juventude que tem cada vez menos restrições e mais informação. Alguns estão até ousando pensar que talvez não exista certo e errado, bem e mau, bandido e mocinho.

Claro, essa é uma análise controversa. Para a maioria dos cidadãos de bem, do servente de pedreiro ao livre pensador, as coisas continuam cristalinas como água e o caminho para o Bem é evidente. E o que é esse Bem? O Bem é que todos tenham as mesmas oportunidades. O Bem é a igualdade, a fraternidade... ou, numa linguagem mais atual, o Bem é que todos possam um dia ter o mesmo poder de consumo. É possível levantar diversas bandeiras em nome desse Bem, mas quero falar especificamente de uma, que, dada a atual conjuntura do mercado de trabalho, seguramente será defendida por qualquer cidadão esclarecido: Universidade para todos!

O que isso significa? Significa que, em nome do Bem, é preciso que todos, de todas as cores, credos e classes sociais, tenham a oportunidade de cursar o ensino superior e disputar de igual para igual o seu lugar ao sol, quentinho e confortável como um útero. Ser empregado, feliz e Bom. Cada jovem que ingressar na faculdade será uma vitória para o Bem. Cada jovem nas ruas, na lavoura, na favela, um doloroso tapa na cara.

Uma idéia assim só podia mesmo ter nascido de um lugar: Da elite intelectual do país, estudantes, professores e políticos, todos com seu diploma universitário em mãos ou já encaminhado. "Que ABSURDO, que ULTRAJE essa juventude desfavorecida, sem as mesmas condições que nós, os Bons!", eles clamam com fervor, erguem suas bandeiras e vão à luta. Do outro lado, as camadas populares olham com admiração, dizem "Sim, SIM, pobres de nós desamparados! Ó Bons, salvem-nos!" e acreditam. Acreditam que, enquanto estiverem excluídos do ensino superior, não são nada.

Esse é o poder que a elite, por ser elite, tem. O de fazer os outros acreditarem que ou fazem parte dela, ou estão abaixo dela. Quanta audácia a de um ser para julgar-se, mesmo que na mais altruísta das intenções, acima de qualquer outro ser! E quanta irresponsabilidade ao reforçar essa impressão quando vinda de alguém que já se julga menor, inferior!

Todos os caminhos levam a Roma, e a universidade é sem dúvida um deles. Mas enquanto continuar a ser vista como o único ou o melhor, nunca chegaremos perto de equilibrar as oportunidades e direitos entre todos. De salários exorbitantemente maiores a celas especiais exclusivas, tudo isso mantém a elite universitária em seu pedestal imaculável de cidadão de classe superior. Mas nunca vi um Bom lutar contra nenhuma dessas coisas.

Um comentário:

Anônimo disse...

bom te ver escrever :)