Vivi longos anos
poucos, é verdade
mas longos
e sempre que prestei atenção
algo tinham a me ensinar
Vivi cada coisa a seu tempo
fui criança de verdade
aprendi que sabia correr
subir em árvores
que sabia amar e sofrer
e cantar
e crescer
Cresci
Vivi a dor de tornar-me
o que?
Que importa?
Aprendi que tornar-se sempre dói
Algo se quebra
como crisálida
E algo mole e disforme
enrijece
Pois tornei-me!
Tornei-me trezentas vezes mais
e com a dor aprendi
se a vida é inevitável mutação
quão rijo posso ser?
Aprendi a tomar formas fluidas
Vivi entre meus semelhantes
em diversas formas e tamanhos
nunca se pareceram comigo
nem uns com os outros
Os vejo tão sozinhos
sem se parecerem com nada
Caçam diferenças
e chamam a isso sua individualidade
Aprendi a não caçar diferenças
É um esporte solitário
Se serei caçador, quero minha alcatéia
pra que corramos juntos
e uivemos
e celebremos
Perco-me de mim
me encontro em vocês
caçando nossa igualdade
Vivi ao teu lado
à tua frente
dentro de ti
e re-aprendi
que sabia amar
e sofrer
e cantar
e crescer
Vislumbrei com olhos infantis
tenros e sonhadores
novas formas e cores
sabores secretos
caminhos tortos ou retos
discretos desvios
(que o olhar endurecido, fixo, ignora)
por onde podemos caminhar
de mãos dadas, nus, plantando bananeira
ou qualquer outra besteira
Vivi longe de ti
e enfastiei-me de beleza!
Sim, quanta beleza pode caber num único dia
grandiosa, brilhante e disfarçada de mero ocaso
e numa noite, sozinho, deitado
aprendi que sinto tua falta
pois é tanta - ah, meu deus, tanta! - a beleza
que preciso compartilha-la
Colhi sempre o que semeei
e de meu cultivo dependiam
a qualidade e a abundância
Assim aprendi que não tenho porque
nem de que reclamar
Vivi longos anos
e veja quanto aprendi
Foram poucos, é bem verdade
mas quanta alegria sinto em ter ainda muito a aprender
Vivo em alto mar
entre náufragos e peixes
O vento sopra salgado
a maré dança impiedosa
o oceano é imenso, inexplorado, imprevisível
e abriga em ilhas ou profundezas
tesouro inconcebível
canção de sereia
monstro submarino
piratas sem lei
Vejo barcos à deriva
e eu, lobo do mar
por sede de aventura
por amor ao horizonte
aprendo a navegar
sexta-feira, 21 de novembro de 2008
Vivendo e aprendendo
na companhia de
artistas de tigela e meia,
Deus,
idiotas apaixonados,
piratas imundos
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