quarta-feira, 24 de dezembro de 2008

Pra não discutir semântica

Quando digo que a espiritualidade é uma alegoria poética, quero dizer que ela, por si só, não constitui um caminho verdadeiro, um curso real de ação. Cada vez mais acho a matéria inseparável do espírito, e creio que assim também o crê a física moderna.

Ainda assim tendemos a abordar as questões do espírito como que separadas, como se evoluir espiritualmente fosse, de alguma forma, uma negação da matéria. Não! Isso é fruto de filosofias absolutamente anacrônicas, inadaptadas a um mundo que está aprendendo cada vez mais sobre si mesmo! Por que distanciar espírito e corpo? Consciência e ciência?

Olhar ao redor é, as vezes, terrível, assustador. A impressão é a de uma humanidade afundando-se cada vez mais, afastando-se de sua própria evolução e caminhando para a auto-destruição. E aí sentimos medo. Ou odiamos. Ou nos refugiamos numa pretensa evolução interior.

Mas toda época traz em si a semente do futuro próximo. Não no óbvio, não nos valores e tradições arcaicas que se arrastam no tempo e tentam consolidar a história como se já consumada, ou fazer-nos dar meia volta e caminhar em direção ao passado. É na imaginação que está plantada essa semente, na ousada criatividade que adentra a superfície de nosso tempo e atribui-lhe valores fantásticos.

"O que é preciso, para estar presente, é ser contemporâneo do futuro."
O Despertar dos Mágicos, Louis Pauwels

Vou me valer de mais algumas palavras que li nas primeiras páginas desse livro:

"Mesmo as épocas de opressão são dignas de respeito, pois são a obra, não dos homens, mas da humanidade, e portanto da natureza criadora, que pode ser dura, mas nunca é absurda. Se a época que vivemos é dura, temos o dever de amá-la ainda mais, de penetrá-la com o nosso amor, até que tenhamos afastado as enormes montanhas que dissimulam a luz que há para além delas."
Para onde vai o mundo?, Walter Rathenau

e finalmente

"É preciso não contar demasiadamente com Deus, mas talvez Deus conte conosco..."
Últimas palavras do padrasto de Pauwels, a quem este dedica o livro

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